Considerado tipo especial de arroz, material apresenta alto teor de proteína e capacidade antioxidante.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) celebra o registro da cultivar ENA AR 1601 de arroz vermelho (Oryza sativa L.) no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Oficializada no último mês de outubro, a inscrição do material é a primeira de titularidade da Universidade Rural.
“O registro de cultivares [no RNC] permite a produção e a comercialização de sementes no país, sendo este um processo importante para os programas de melhoramento, pois assegura a identidade genética e a qualidade varietal das cultivares. Uma vez registradas, as características das cultivares são preservadas ao longo das gerações”, explica o professor Luiz Beja Moreira (Departamento de Fitotecnia/Instituto de Agronomia), coordenador da equipe de pesquisas com a ENA AR 1601.
Além de Luiz Beja, a professora Bruna Rafaela da Silva Menezes (Departamento de Genética/Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde) e o engenheiro agrônomo Rafael Hydalgo Passeri (Campos dos Goytacazes/UFRRJ) também integram a equipe de pesquisas. Como requerente do registro da cultivar, a UFRRJ fica responsável por sua manutenção.
Considerada um tipo especial de arroz, a ENA AR 1601 é a primeira cultivar de arroz vermelho recomendada para o cultivo em sistema de sequeiro irrigado para a região sudeste do Brasil. Além de possuir um bom potencial produtivo, seus grãos integrais apresentam alto teor médio de proteína e alta capacidade antioxidante e antihiperglicêmica.
“Os grãos integrais cozidos apresentam textura glutinosa e macia, com sabor suave, levemente terroso com toques de trigo e centeio. E, como recomendação gastronômica, é excelente para risotos e saladas, harmoniza com ervas, carnes brancas e vegetais. Sabores suaves, adocicados e herbáceos combinam muito bem com a delicadeza deste arroz”, complementa o professor.
A planta que deu origem a cultivar de arroz vermelho foi coletada em uma lavoura do Campo Experimental do Setor de Grandes Culturas do Departamento de Fitotecnia da UFRRJ no ano de 2004.
“Estas áreas experimentais são cultivadas por mais de quatro décadas com cultivares de arroz branco em convivência com plantas de arroz de pericarpo vermelho, consideradas plantas daninhas em virtude de suas diversas características morfológicas e agronômicas indesejáveis”, conta o pesquisador.
Entenda o processo
O Registro Nacional de Cultivares (RNC) é um mecanismo regulatório da produção de sementes que se propõe a garantir ao agricultor uma confiabilidade em seu plantio. Para isso, o MAPA estabelece determinados critérios e exigências obrigatórios para o registro de cultivares no sistema.
Em um primeiro estágio, o requerente precisa provar que a cultivar é portadora de atributos agronômicos e de utilização que as diferencie das demais cultivares já existentes no mercado. Ao longo dos anos, a coleta de informações e conhecimentos a respeito da cultivar ENA AR 1601 necessários para seu registro foi realizada por dezenas de professores, pesquisadores, técnicos, estagiários e bolsistas de diferentes programas e departamentos da Universidade Rural.
A seguir, são executados os ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) da cultivar. Estes são testes de rendimento preliminares, feitos em diferentes condições ambientais, que visam obter informações agronômicas detalhadas para o lançamento de novas cultivares. Através dos ensaios de VCU, são obtidos os requisitos mínimos para a inscrição da cultivar no RNC.
Em 2016, a cultivar ENA AR 1601 foi avaliada em ensaios VCU em três locais distintos do Rio de Janeiro. Posteriormente, os resultados desses ensaios foram encaminhados ao MAPA através do Formulário de Comunicação de Realização de VCU para determinação do Valor de Cultivo e Uso do arroz Oryza sativa L.
Por fim, a última etapa do processo é a solicitação de registro através do envio de um formulário de inscrição específico para cada espécie de cultivar. O processo de organização da documentação necessária para o registro da cultivar ENA AR 1601 teve início em agosto de 2019.
“O Prof. Beja apresentou solicitação de serviços ao NIT-UFRRJ em agosto de 2019. Desde então, iniciamos o processo de organização de toda a documentação necessária para realização do registro junto ao MAPA. Por conta da espera da confirmação de recebimento de documentação por parte do MAPA e, posteriormente, por conta da pandemia, tivemos que interromper as atividades. Durante o 2º semestre de 2020, retomamos o trabalho e, finalmente, após concluir todos os processos tanto internos (UFRRJ) quanto relativos à documentação, conseguimos, no final do mês de setembro, peticionar a solicitação de registro junto ao MAPA”, conta Cristina Santos, do Núcleo de Inovação e Tecnologia (NIT/UFRRJ).
A solicitação de inscrição da ENA AR 1601 foi apreciada e o registro foi expedido em 27 de outubro de 2020. A permanência dessa inscrição depende de um mantenedor (nesse caso, a UFRRJ) que tenha condições técnicas e infraestrutura suficientes para garantir a manutenção da cultivar, disponibilizar o material básico de propagação dela e, assim, garantir suas características de identidade genética e pureza varietal declaradas em seu registro no RNC.
Por João Gabriel Castro, estagiário de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ).
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